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    Le Tour 2023: um breve resumo

    O calendário anual do ciclismo chega ao seu ápice no verão Europeu. O Tour de France esse ano me pareceu um evento com ainda mais notoriedade. Vários canais, sites e mídias diversas fazendo uma belíssima cobertura. Dados impressionantes de transmissão televisiva enfatizaram aquilo que já sabíamos, o Tour de France Masculino é o principal evento esportivo televisionado ao vivo do mundo, com mais de 3.5 Bilhões de telespectadores e mais de 15 milhões de espectadores ao longo das 21 etapas. Um colosso do entretenimento global que precisa melhorar bastante a condição de seus protagonistas, os atletas.

    Outra coisa que me chamou a atenção foram os holofotes sobre o duelo de um atleta fenomenal com recordes históricos vs um atleta que se mostrou como o mais forte ciclista de grandes voltas da atualidade.

     

    Annemiek Van Vleuten vs Demi Vollering

    Sim, antes de falar do masculino considero importante destacar essas duas fantásticas atletas do mais alto nível, que protagonizaram uma grande disputa no Tour de France Femmes. A expectativa da veterana holandesa, Vleuten de 40 anos, que vinha de seis vitorias em Grand Tour consecutivas (Vuelta – 21, Vuelta/Giro/Tour – 22 e Vuelta/Giro – 23) , além de ser a atual campeã mundial contra a também holandesa Vollering, de 26 anos, que detonou nas clássicas das Ardenas nesse ano, levando a tríplice (Amstel Gold – Fleche Wallone e Liege-Bastogne-Liege) além da Strade Bianche, Campeonato Holandês (o mais forte no feminino) e outras tantas vitorias e pódios em sequencia que a colocam como a atual número 1 do ranking UCI.

    O Tour de France Femme by Zwift foi disputado em 8 etapas saindo do centro da França em direção sudoeste, até a cadeia de montanhas dos Pirineus, divisa com a Espanha. E foi exatamente no fim que a vitória de Vollering fora conquistada, mesmo após uma penalização de 20 segundos por ter pego um vácuo excessivo no carro da equipe durante a 6ª etapa, culminando inclusive na expulsão de um dos diretores da SDWorxs (equipe de Vollering) que conduzia o carro. Na 7ª etapa, a mais importante dessa edição, Vollering escalou o grande Tourmalet batendo o recorde feminino da montanha – QOM (Queen of Mountain) e abrindo uma distância de Van Vleuten suficientemente confortável para administrar a camisa amarela no contrarrelógio final na cidade de Pau, local da chegada.

    Sua equipe SDWorx ainda colocou a sprinter-passista Lotte Kopecky no pódio em 2º, com polonesa Katarzyna Niewiadoma (Canyon/Sram Racing)  em 3º na Geral. Camisa verde de pontos ficou com Kopecky e a branca de bolinhas, rainha da montanha, com Niewiadoma. Van Vleuten terminou em 4º na Geral com um resultado aquém de suas expectativas.

     

    Despedidas

    Falando sobre o Tour de France masculino, esse foi um ano de grandes despedidas e dentre as mais importantes cito a de Peter Sagan (Total Energies) e Thibaut Pinot (Groupama FDJ). Pinot foi uma lenda para os franceses, super escalador e esperança não concretizada para vencer o Tour – 3º na Geral em 2014. Sempre muito pressionado pela imprensa e pela torcida, mas super apoiado internamente pela equipe, Pinot se aposenta aos 33 anos com vitorias de etapas nas três grandes voltas, um monumento – Lombardia, camisa de rei da montanha do Giro 2023 e vitórias na classificação geral de corrida por etapas de uma semana como Tour dos Alpes 2018 e Tour de L’Ain 2019 e 2017.

    Já o Sagan, deveríamos escrever um livro a parte. Um dos maiores ciclistas da década passada, senão o maior, com 121 vitorias como profissional e um histórico Tricampeonato Mundial 2015, 2016 e 2017. Vencedor de Paris Roubaix 2018, Tour de Flandres 2016, 3 x Gent-Wevelgem, 12x Etapas do Tour de France, recordista com 7 Camisas Verde do Tour de France (2012 a 2019 com uma falta em 2017 que fora desqualificado por uma decisão da organização do Tour em função de um toque com o cotovelo em Mark Cavendish durante um sprint). Peter The Great, figura cômica, de sotaque carregado, debochado, que foi um exímio downhiller, que esteve envolvido em inúmeras polêmicas dentro das pistas, fora delas e no pódio 😊, mas sobretudo um vitorioso de primeira classe! La se vai um fuoriclasse, como diriam os italianos…

     

    O Duelo

    Essa edição do Tour prometia a reedição do duelo que começou em 2021, se consolidou em 2022 (leia o texto sobre o Inimigo). Tadej Pogacar, bicampeão do Tour, estrela máxima do ciclismo na atualidade, com uma capacidade incrível de ganhar provas nas mais variadas condições de terreno, sejam eles em grandes voltas ou clássicas, contra o atual campeão, frio e calculista Jonas Vingegaard, melhor escalador do planeta com performances recorde nas altas montanhas por onde passa e com um contrarrelógio preciso e eficiente. Para apimentar a disputa, ambos contavam com supertimes na escolta; a UAE de “Pogi” com Yates, Majka, etc vs a Jumbo de “Vingo” com Van Aert, Kuss e ponto final…

    O Tour largou de Bilbao, no norte da Espanha, no coração do País Basco, região de tradicional paixão pelo ciclismo e entrou nos Pirineus Franceses logo na primeira semana, dando uma agitada na classificação geral pela Amarela desde o princípio. Com uma boa estratégia da Jumbo, e uma extraordinária performance de Vingegaard, o dinamarquês conseguiu abrir a primeira vantagem significativa sobre Pogacar (53s) e que determinou o desenrolar do Tour 2023.

    Para quem curte performance, Vingegaard subiu o Col de Marie Blanque (7,90km; 8,49%; 671m) em 20’58” – 20,97km/h com estimados 6.92w/kg (misericórdia…), 1:29 mais rápido que o recorde anterior. Aliás se tem uma coisa corriqueira nesse Tour foram os KOMs. Em praticamente todas as montanhas, Vingegaard e Pogacar pulverizaram marcas que perduravam por décadas. Sobrou até para o mítico Marco Pantani que viu sua marca no famoso Col de Joux Plane derrubada pela dupla por 5” mesmo após uma intercorrência com uma motocicleta da TV.

     

    Retornando à prova, Pogacar partiu, após essa perda de tempo na etapa 5, para um modo ofensivo e agressivo que lhe é característico, recuperando tempo sobre Vingegaard etapa a etapa. Buscava segundos de bônus em sprints intermediário e nas chegadas fazendo valer a sua característica de atleta com enorme explosão em chegadas. A recuperação foi tão significativa que antes do ITT (Contrarrelógio Individual) da 15ª etapa, a diferença entre Pogi e Vine ficou em apenas 10 segundos. Para efeitos de comparação da ferocidade de ambos, o terceiro lugar estava a 5’21” do líder.

     

    O Contrarrelógio

    Mais uma página heroica da história do ciclismo fora escrita nesse dia. Pogacar, um extraordinário contrarrelogista, tinha a seu favor o desempenho avassalador do Tour de 2020 que demoliu por completo o então líder Primoz Roglic e toda a equipe Jumbo, surpreendendo o mundo todo e definitivamente se estabelecendo como um dos melhores dessa geração. A expectativa que isso pudesse se repetir era enorme e a tensão

    . Pogacar efetivamente fez um contrarrelógio impecável, rodando na bike de TT na parte plana (16,1km) e substituindo por uma bike de escalada na parte final, uma escalada de 6,3km ate o vilarejo de Combloux. Pogi bateu Wout Van Aert (o melhor dentre os humanos) por 1:13 em pouco mais de 22km de TT, um tempo absolutamente fantástico.

    Jonas Vingegaard que desceu a rampa depois de Pogacar nos presenteou com uma obra de arte, um memorável contrarrelógio, destruindo todas as parciais no plano e na subida, na mesma bike de contrarrelógio, sem dar a menor chance para Pogacar e emplacando colossais 1’38” de diferença no seu rival. Vingo nunca havia perdido para Pogi num TT e a história permanece. Foi uma performance tão expressiva que poucos na história conseguiram imprimir uma diferença de performance tão grande como essa. Jonas cortava 3” sobre Pogi a cada minuto rodado na pista, um verdadeiro espancamento.

    I’m gone. I’m dead

    Essas foram as palavras de Pogacar, na etapa seguinte, durante a escalada final em direção à estação de Ski de Courchevel, subindo o gigante Col de la Loze. Já se pensava que a principal arma de Vingegaard contra Pogacar eram ataques de longa duração em altas montanhas, como ocorrido no Tour do ano passado. Além disso, depois de um contrarrelógio muito estressante, é sabido que alguns organismos sentem mais a mudança de ritmo de prova. Porém o que ninguém previu foi uma explosão completa de Pogacar já no final da escalada do La Loze, com 9,3km pra chegada. A equipe Jumbo com maestria distribuiu 3 gregários na frente de Jonas, que haviam partido em fugas no início da etapa. O primeiro foi Sepp Kuss, em segundo Tiesj Benoot e por fim Wilco Kelderman que asseguraram de vez a vitória do Tour 2023 para o agora Bi campeão Jonas Rasmunssen Vingegaard. Pogacar tomara 5’45” de Vingegaard e terminando o Tour numa das maiores distancias entre o primeiro e o segundo lugares do século XX, 7’29”.

    As classificações finais foram:

    • Camisa Amarela
    1. Jonas Vingegaard Jumbo Visma                     82:05:42
    2. Tadej Pogacar UAE Emirates                    7:29
    3. Adam Yates UAE Emirates                    10:56
    4. Simon Yates Jayco AlUla                         12:23
    5. Carlos Rodriguez INEOS Grenadiers           13:17

     

    • Camisa Verde (Sprint pontos)
    1. Jasper Philipsen Alpecin                                377 pts
    2. Mads Pedersen Lidl TREK                             258 pts
    3. Bryan Coquard Cofidis                                  203 pts

     

    • Camisa KOM (Pontos Montanha)
      1. Giulio Ciccone Lidl TREK                             106 pts
      2. Felix Gall AG2R Citröen                    92 pts
      3. Jonas Vingegaard Jumbo Visma                     89 pts

     

     

     

    Nos vemos no Mundial… Au revoir a bientot!!!

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